quinta-feira, 8 de julho de 2010

O caboco e o delegado

Num tempo distânte
Num cantinho da Paraíba
Criou-se um povoado
Que a lei não esitia

Terra de cabra valente
Que com a faca nos dentes
Não tinha medo de gent
Nem de alma vivente

Pois foi nesse povoado
Que um delegado valente
Quem diria nesse lugar
Ele foi a bitar

Seu nome era Severino
Conhecido como Minan
Cabra valente como ele
Já mais se viu por lá

Ao tomar conhecimento
O prefeito foi falar
Toma cuidado sargento
Que o caboco vai chegar

Ele é forte como um touro
E só pensa em brigar
Com a faca nos dentes
Bota todos pra chorar

O padre também veio
Logo avisar
Seu sargento tome cuidado
Pro céu não ir morar

Reze três Ave Maria
E o Pai Nosso sem cessar
É melhor se confessar
E os seus pecados perdoar

Deixe de tolice seu padre
Que pro xadrez eu vou levar
Esse cabra valente
Que a todos quer enfrentar

O delegado preocupado
Começou a pensar
Foi falar com o cabo
Pra o sujeito espreitar

No sábado de manhã
Na estrada do lugar
O corre corre era grande
O cabra acabará de chegar

Montado em seu cavalo
Vindo a galopar
Com um sorriso nos dentes
Começou a gritar

Nessa cidade não tem homem
Nem delegado pra lutar
O prefeito é chifrudo
Pelos poucos homens do lugar

Seu delegado é um fole
Que tem medo de lutar
Vou comer na sacristia
Da paróquia do lugar

E o tempo foi passando
E o caboco foi crescendo
Esbanjava valentia
Pois a ninguem ele temia

Acostumado a botar
Disordem no lugar
Bebia pinga sem parar
Até a orelha esquentar

Qualquer Maria para ele
Era seu par pra dançar
E os homens sem coragem
Só fazia lamentar

Com sina de chifrudo
E sem coragem pra lutar
Vão perdendo sua Maria
Pra esse cabra abraçar

Só na cachaça aliviava
O sofrimento do lugar
Ia pra casa chormingar
Sem coragem de desfrutar

Dos encantos de sua Maria
De sua curva aproveitar
Se sentindo humilhado
Pelo caboco do lugar

Mas o dia tava chegando
Que o caboco ia entortar
O seu encontro tava marcado
Com o delegado do lugar

Homem sabido e corajoso
Pois pimenta pra serenar
Enterrada na beira do açude
Trinta dias fez passar

Estando ela pronta
Lá foi ele desinterrar
A bicha tava ardida
Que o nariz fez espirrar

A ordem foi dada
Pro cabo avizar
Quando o caboco chegar
O delegado acordar

Sargento se alevante
Que o cabra acabou de entrar
Lá no bar estar bebendo
E a todos insultar

Já falou do prefeito
E do padre sem parar
Até do senhor
Que tenho vergonha até de contar

Vamos lá cabo
Esse caboco enfrentar
Ele num é valente?
Pois hoje ele vai provar

Acontece que o sargento
Também tinha o seu valor
Corajoso e destemido
Ninguem tinha visto por lá

Foi entrando na budega
E o outro a encarar
Chegou tua hora
Pra cadeia vou te levar

Pra mostrar que era valente
As armas fez soltar
E de punhos levantados
Começou a esmurrar

Foi tanta pancadaria
Que do caboco fez ecoar
Um gemido de dor
Um apelo para tudo acabar

Algemado ele foi
Pra cadeia do lugar
Alegando tranferência
Uma viajem fez entregar

Depois de muitas horas
O desfecho a desenrolar
A substância apimentada
Num caboco fez enfiar

Gritando e gemendo
O caboco pois a correr
Até hoje ninguem sabe
Do sujeito no lugar

E naquele povoado
A paz voltou a reinar
Foi mais uma missão
Do sargento do lugar

Sargento destemido
Que a todos fez respeitar
São os contos de Minan
Que eu passo a contar

Com alegria e com vontade
Para a sua vida espelhar
A vida de outras pessoas
E a todos encantar

Everaldo da Silva

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